Adoro estar na natureza, no mar, recarregando minhas “baterias”, traz a mim muita paz interior. Amo nos finais de semana, acordar cedinho e ir andar de stand up paddle (SUP) num local tranquilo, perto de um mangue com águas calmas, claras e mornas em meio a montanhas. É um local “secreto”, que mais tarde fica com vento, cheio de barquinhos, lanchas, confusão, mas cedinho é meu paraíso.
Hoje estava com uma amiga, que não sabia usar o stand up. A encorajei, com receio aceitou ao convite de tentar aprender. Peguei duas pranchas, ensinei, fiquei junto, e ela foi pouco a pouco pegando confiança e por fim de me disse: “nem posso acreditar que consegui! Já tentei antes e só cai!”. Fiquei muito feliz em poder ajudar naqueles “primeiros passos”. Já mais confiante, se desligou um pouco dos movimentos e “ouviu o silêncio”, como é calmo aqui – ela disse. Comentei que ali seriam momentos de meditação, de estar comigo mesma em comunhão com o ambiente, com a natureza. Ela tentou ficar mais quieta, em si, e logo percebeu a magia do em torno – “que paz!”.
Mais a frente passou a perceber que mínimos movimentos de seu corpo na prancha a mesma respondia, no rumo, direção e estabilidade e que quanto mais calmos e silenciosos eram, mais os animais, aves, tartarugas e peixinhos se aproximavam de nós. Percebeu também que ela conduzia a prancha, e por mais que eu pudesse orienta-la, quem dava o rumo era ela.
Havíamos em outra oportunidade conversado sobre o quanto somos nós mesmos autores de nosso destino e que por mais que orientemos ou falemos ao outro nossas impressões, apenas cada um é o responsável por seu próprio caminho, somos companheiros de jornada, mas cada um tem e traça seu destino – como nós ali, cada uma em sua prancha, num rumo comum. Rapidamente seus olhos brilharam e a nossa conversa passou a fazer um sentido maior. Ela, e somente ela aprendeu a se equilibrar, embora com ajuda externa nos primeiros passos, foi seu esforço que fez ficar de pé na prancha – na vida – apenas silenciando seu coração saindo do passo a passo das orientações externas e preocupação com as manobras conseguia perceber a paz, a natureza e seu silencio, observou que mínimos movimentos traziam mudanças no rumo e estabilidade da prancha e assim também suas ações em sua história, por fim percebeu que por mais que o outro pudesse orientar, somente ela era a responsável pelo rumo, estabilidade e direção da prancha, e da vida. Nos olhamos, ficamos em silencio, um sentimento de gratidão veio em seu sorriso e lábios, uma singela lágrima saiu de seus olhos e só percebi pelo brilho do sol em seu rosto. Nossos corações se aqueceram. Viva a vida!