Nem sempre é fácil abrir mão do ter, afinal ter é o que sempre desejamos. Somos criados para “ter” e mais precisamente, e/ou “ter que”. Desde pequenos temos que fazer coisas, deveres, tarefas, ter que ser bonzinhos, lindos, queridos, carinhosos, independentes, enfim… ter que ser várias coisas, assim como buscamos ter brinquedos, profissão, companheiro/a, amigos, dinheiro e outras coisas, a fim de sermos socialmente aceitos e correspondermos às expectativas dos outros e nossas em relação a nós mesmos. Nas mídias vemos isso de forma clara quando temos que ser/ter tudo de bom, mostrarmos nosso lado invejável… raras são as postagens de derrotas ou lutas ou batalhas perdidas – temos que parecer ser o mais próximos possível da perfeição.
Desde crianças esses padrões são incorporados a nós, tornam-se nós mesmos em nosso ser mais profundo, tornam-se máscaras, preconceitos, dogmas, verdades as quais nos prendemos e seguramos a fim de sobrevivermos nesse nosso mundo atual. A criança que precisa deixar de ser como é para ser bem vista pela família ou pelos amigos, o preconceito velado, as palavras não ditas claramente, as meias verdades impressas em nossa alma… e a doce ilusão ou necessidade de ser aceito e admirado pelo que aparentamos ser e então esse ser mais tarde, em muitos casos, se torna um ser-ter – sou o que tenho e tenho o que sou. Difícil, não é mesmo?
O tempo vai passando (neste caso, graças a Deus) e a idade vai nos trazendo uma nova tranquilidade, uma nova perspectiva na vida – mudanças – embora nada seja de graça mas sim, na maioria das vezes, a duras penas e difíceis escolhas, as vezes intencionais, as vezes por doenças que surgem e nos fazem mudar nossos padrões de comportamento e de visão do mundo, mas o fato é que elas ocorrem.
O mudar, o deixar de fazer o que não faz mais sentido, o ouvir nosso eu interior se torna mais perceptível. A necessidade de deixar para trás certos padrões que nos acompanhavam desde cedo em nossa vida, assim como máscaras que perdem o sentido e podem ser descartadas, o importar-se menos com a opinião alheia e importar-se mais com o que realmente faz sentido para mim.
O ter passa então a ser secundário. Preciso ter para ser quem eu sou? Preciso disso para fazer minhas escolhas conscientes? O ter que fazer algo sem vontade apenas por obrigação é algo que ainda tem sentido em minha vida? Será que os bens materiais que me trazem certo status são realmente importantes para minha felicidade e relações ou nesse momento de vida podem virar empecilhos e motivos de adoecimento pelo apego excessivo de minha parte? O que me toca no coração? Essa são questões muito profundas que certamente em suas respostas podem vir acompanhadas de aperto, dor, reflexão. A resposta pode ser positiva ou negativa, não importa, só você sabe o que é bom pra você, o que faz sentido em seu coração. E essa liberdade de ouvir o coração e com clareza no pensar ser por ele orientado traz seu verdadeiro ser, a sensação de plenitude de mais que ter ou ter que, simplesmente ser você mesmo com coragem e liberdade!